Do Chuveiro Para os Palcos (Parte 2)

Continuando nosso papo da semana passada em que eu falava do sonho de ser cantor, hoje eu quero falar um pouco sobre o sonho de viver de música, de se profissionalizar. Pra isso, a gente vai precisar colocar os pés no chão, de leve. Aulas de canto, consultas com otorrinolaringologista, sessões de fonoterapia, estúdio para ensaios e gravações, bons instrumentos, tempo de estudo, enfim, tudo isso custa dinheiro. E não é pouco. Como custear tudo isso e não desistir diante dos primeiros obstáculos?

Antes de qualquer coisa, é preciso estar convicto de que cantar é uma necessidade pra você. Se tiver essa certeza no coração você irá encontrar os caminhos e as soluções pra cada um desses desafios. Existem professores que dão aulas em projetos sociais com preços bem mais acessíveis, a Escola de Música de Brasília (onde leciono) que é de graça , médicos e fonoterapeutas na rede pública de saúde, os ensaios podem ser em casa, os instrumentos podem ser usados, ou seja, o dinheiro pode ser pouco, mas a vontade, não. Ficar em casa de braços cruzados assistindo ao The Voice é que não vai resolver seus problemas. Além disso, pode acreditar que, mesmo os mais talentosos ou, os já famosos, não ganharam nada de “mão beijada”. Acredite nisso, muitos começaram suas carreiras ainda crianças e tiverem que enfrentar um mar de incertezas e privações como qualquer um de nós.

Vocês hão de concordar comigo, toda profissão tem suas agruras. Como eu havia dito anteriormente, o seu investimento tem que ser do tamanho do seu sonho. E o que não falta nesse nosso caminho é gente pra tentar nos fazer desistir. Me formei em Comunicação Social no mesmo ano que ingressei no curso de Música da UnB. Àquela altura eu tive que ouvir muita gente dizendo pra eu deixar essa coisa de cantar apenas como hobby e investir na carreira de publicitário, mas eu era estagiário numa empresa de comunicação e o pouco que ganhava já dava pra pagar minhas aulas de canto. Tava tudo certo! Fui fazer Música, e ser feliz! Com o tempo eu comecei a ser requisitado pra dar aulas de canto e a compartilhar os ensinamentos que eu havia adquirido até aquela altura. Fui entrando no mundo profissional da música e ganhando meus primeiros trocados dando aulas para iniciantes e cantando onde me chamavam.

O mercado para cantores profissionais é vasto; você pode cantar em bares e restaurantes, casamentos, bandas cover ou de baile, ser backing vocal de outros artistas, ser cantor de estúdio, de teatro musical e, também, dar aulas. Aliás, é comum que muitos façam mais de uma coisa pra garantir um pouco mais de estabilidade financeira. E se você é um cantor e compositor que sonha gravar um disco mas não tem muita grana, sugiro gravar de 1 a 3 faixas bem gravadas, com uma boa produção, num bom estúdio. Campanhas de financiamento coletivo ou editais de incentivo, apoio e fomento a cultura tem ajudado muito gente a viabilizar suas produções. Só não fique esperando que algum produtor ou empresário descubra o seu talento e impulsione sua carreira. Acho muito pouco provável que isso aconteça, sem desmerecer em nada seu talento e seu trabalho. O dia que você conquistar seu público e tiver milhares de seguidores nas redes sociais interessados na sua música o assunto muda de figura, acredite.

E, pra terminar, qual músico nunca ouviu aquela pergunta básica: – Você é músico? Que bacana! E você trabalha com o quê? O que você faz pra ganhar dinheiro? Gente, se somos músicos profissionais precisamos reconhecer nossa importância para a sociedade e entender que temos um papel a cumprir como cidadãos e artistas. Se nós não valorizarmos nosso trabalho, ninguém mais o fará. A música e os músicos brasileiros são respeitados e admirados mundo afora. Você sabia que o Brasil é um dos poucos países no mundo onde se consome mais música nacional do que importada? Pois é, nossa diversidade e riqueza musical é imensa, e, por isso, precisamos entender que todo o nosso suor e investimento tem que ser remunerado de forma justa. Valorize o músico!

Viva a Música!

 

Autor: Alysson Takaki